COLUNA DO RICCHETTI – Cores ao sabor do vento 2c3t1e

O Ceará nos acolheu para o Réveillon como quem abraça a vida de braços abertos. Fortim, com suas praias tranquilas e a brisa incessante, foi o cenário perfeito para o encontro em família. Mas foi em um eio a Canoa Quebrada que a magia da terra cearense se revelou em uma conversa inesperada, entre falésias avermelhadas e o mar que parecia querer beijá-las a cada onda. 5s6x67

No meio da paisagem, encontramos Frankcleison, um artesão das areias coloridas. Seu nome, uma curiosa combinação de sílabas, não é simples, mas ele, sim, é. A simplicidade em pessoa. Ali, entre ventos e ondas, moldava com precisão pequenos vidros, enchendo-os com desenhos feitos de areia – palmeiras, jangadas, sóis. Pequenos universos cearenses, eternizados em sua arte.

Enquanto observávamos, ele nos contou sobre seu irmão, que vive longe, na distante Finlândia. “O amor levou ele pra lá,” disse, com um sorriso que misturava orgulho e saudade. Pensei em como o destino brinca com a geografia da vida: um irmão trabalha sob o calor do sol, cercado de maresia e cores vibrantes; o outro enfrenta o frio glacial, construindo seu futuro com mãos firmes em uma terra que congela a pele, mas aquece o coração com o amor que lá o prendeu.

A vida, com seus contrastes, nunca deixa de nos surpreender. Frankcleison é o reflexo dessa dança entre simplicidade e complexidade. Sua arte é delicada, mas sua habilidade é firme. Ele nos mostrou que a vida é moldada como as areias coloridas: grão por grão, pacientemente, até que algo belo se revele.

Enquanto ouvia sua história, pensei no vento, que tanto move as areias de Canoa Quebrada quanto as nossas decisões. É ele quem leva o irmão para longe e quem traz turistas para irar essa sua arte. É o vento quem transforma a paisagem, esculpindo falésias e carregando sonhos para terras distantes.

Ao final do dia, ao nos despedirmos, levei comigo um dos vidrinhos de areia, mas também algo maior. A lembrança de que, assim como a areia moldada pela paciência do artesão, nossas vidas também são moldadas pelas escolhas que fazemos e pelos ventos que decidimos seguir – ou resistir.

E, ao olhar para o vidro, vejo mais do que uma paisagem: vejo as cores da vida. A do sol que brilha no Ceará, a do frio da Finlândia, e a do amor que atravessa continentes, unindo dois irmãos tão diferentes e, ao mesmo tempo, tão iguais.

José Luiz Ricchetti

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